sábado, 5 de maio de 2007

Sem palavras

Sem palavras
(Homenagem para o menino que foi enterrado vivo pelos próprios “pais”, na cidade de Governador Valadares, MG, no dia 28/04/07).
Fui gerado no interior de uma adolescente de 17 anos. Dentro de sua barriga, apesar de escuro, não tinha medo de nada, pois me sentia protegida e amada. Podia ouvir seu coração pulsando, sua voz quando falava mais alto, podia sentir quando ela estava alegre ou triste.
O tempo foi passando e eu fui crescendo. Sonhava com a hora de nascer para conhecer melhor minha mãe. Queria ver seu rosto, tocar nos seus cabelos, dormir em seus braços.
Finalmente chegou o grande dia. Com muito esforço minha mãe me deu à luz. Queria ir logo para seus braços para receber seu carinho. Foi quando eu ouvi sua voz dizendo para alguém que dizia ser meu pai:
“Nós não podemos ficar com ela”.
Eles então cavaram um buraco, me jogaram nele e lançaram terra sobre mim. Fiquei ali sozinha, no escuro. Não ouvia o coração de minha mãe, sua voz, nem sentia suas emoções. Pela primeira vez eu tive medo.
Após um longo período, quando pensava que não iria resistir, alguém veio e me tirou do buraco. Estava fraca, quase morrendo. Mas Deus não permitiu que eu morresse ali como se não fosse nada.
Infelizmente, não vou poder comemorar o dia das mães. Vou passar esse dia na UTI do Hospital onde me recupero. Graças a Deus há pessoas de bom coração que estão dispostas a me dar o que minha mãe me negou: amor, carinho e respeito.
Não sei como será meu futuro, mas espero que Deus me ajude a realizar meu sonho de ser feliz, apesar de não passar de um pesadelo para aquela que eu sempre sonhei que seria minha mãe.

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